A redução da carga combustível dos urzais, dos urzais-tojais e dos giestais (até 2m) de montanha é uma das ações chave previstas no âmbito no projeto LIFE Maronesa. Para além do consumo não condicionado da vegetação arbustiva em pastoreio pelos bovinos, estão previstas três técnicas da redução da biomassa combustível com a intervenção direta do homem:
– Fogo controlado;
– Destroçamento mecânico;
– Consumo e pisoteio pelo gado bovino na proximidade de manjedouras amovíveis.
Desde o início do projeto que os criadores de gado envolvidos no LIFE demonstraram um grande interesse pelas manjedouras amovíveis em detrimento do destroçamento mecânico de matos. A eventual transferência de verbas entre as rubricas relativas ao destroçamento de matos e da compra de manjedouras depende da resposta a uma pergunta simples: qual das duas técnicas é mais eficiente dos pontos de vista técnico e económico?
Análise económica:
- Custo unitário da trituração: 1281 €/ha.
- Custo unitário de cada manjedoura (marca Jourdain): 2000€
- Amortização de uma manjedoura (20 anos de duração do equipamento, juro=4%)
- Uso da manjedoura: 5 meses/ano, com 10 mudanças de local (permanências de 15 dias)
- Custo anual da manjedoura: 2000/20×1,04+20×10=296€/ano
- Custo de deslocação de uma manjedoura (40€/h de trator, 0,5h deslocação da manjedoura): 40×0,5=20€
- Área consumida/pisoteada em cada local de permanência da manjedoura (raio de 9m): 92×3,1415 = 0,026ha
- Área consumida/pisoteada anualmente em torno de uma manjedoura:
0,026ha x 10 mudanças de local = 0,26ha/ano - Custo unitário (ha) do destroçamento/pisoteio com manjedoura:
296/0,26 = 1138€/ha
Nas seguintes coordenadas: 41°26’51.4″N, 7°43’16.0″W e 41°26’49.09″N, 7°43’16.27″W, através do Google Maps, podemos verificar o efeito que as manjedouras tiveram na paisagem na exploração do Casal da Bouça.
Análise técnica
Embora os custos das duas alternativas sejam similares as manjedouras são tecnicamente superiores:
– Protegem o feno da chuva e permitem um uso mais eficiente deste recurso forrageiro (comparativamente à alternativa “arrojar o feno no chão”);
– A distribuição de feno na montanha diminui o movimento e os gastos energéticos dos animais (tendo por referência a distribuição do feno nas terras baixas, na proximidade das vacarias)
– Incrementam a permanência dos animais na montanha e a pressão de herbivoria sobre a vegetação arbustiva;
– Facilitam a disseminação de sementes de plantas pratenses herbáceas na montanha (confirmada, por exemplo, com o aumento da área de distribuição do Trifolium repens);
– A distribuição de feno na montanha implica um transporte de nutrientes serra acima e, por conseguinte, um aumento do stock de nutrientes e da sua ciclagem no interior do ecossistema-montanha;
– O incremento da perturbação pela herbivoria e do stock e ciclagem dos nutrientes promove a vegetação herbácea em detrimento do coberto arbustivo com ganhos na produção forrageira útil;
– O destroçamento, ao invés da herbivoria, não elimina os combustíveis finos (a severidade do fogo está correlacionada com a massa de combustíveis finos por unidade de área);
– Um processo similar ocorre com o uso de manjedouras nos lameiros;
– As manjedouras persistem findado projeto LIFE Maronesa (funcionais durante pelo menos mais 15 anos).
Importa ainda referir que a manutenção das manjedouras amovíveis de grande qualidade (marca Jourdain) se resume ao aperto de parafusos em peças móveis.
Conclusão
Os custos unitários das duas técnicas (1281€ vs 1138€) são similares. As vantagens técnicas comportam ganhos económicos não contabilizados na análise económica. A médio prazo, a opção manjedoura é técnica e economicamente francamente mais favorável.